SAMUEL DE SOUSA
Alberto Samuel de Sousa, de seu nome completo, nasceu a 27 de Abril de 1927, no Ambriz, actual província do Bengo.
I – Os garotos
Os garotos
no areal
acácias rubras
palavras silenciosas
ninguém entende
os cristais de cacimbo
nos olhos das nascentes dos rios
ninguém entende
os esqueletos nas fronteiras
juncando os caminhos
descalços
percorrendo as ruas das senzalas
ninguém entende
nas corolas das sombras
a cópula
dos ventres de mahamba
garotos
acácias rubras
palavras
e nas corolas
corpos púberes
mahamba
II – Na memória do sol
Na memória do sol
olhos
olhos
comitivas de bantos
cais
barcos
bantos ao sol
cais ao sol
na memória do sol
olhos
nas pontas das árvores
olhos
bantos
olhos
sol
no diálogo com o vento
bantos
olhos
sol
vento
e mais adiante
galope de cavalgada
batucada
cavando o campo
moendo açúcar
bebendo aguardente
bantos
sol
vento
algodoais
açúcar
aguardente
VII – Luanda à noite
Luanda à noite
estrelas arranhando a pele
com a luz líquida das muralhas
estrelas fendendo a pele
com o açúcar dos amores
risos de diamantes nas sombras
de mulheres apavoradas
com os sexos nas mãos
Luanda à noite
espreitam pirâmides
luas
relógios
sacodem o manto
anunciando o amor
IX – E ela chegou
E ela chegou
vestida
com o rubro da lukula
com o seu sorriso
sol
sol
sol
e com os braços de sol
e com os olhos de sol
e com a alma de sol
entregou o filho à Lemba
mulemba em sol
a terra em sol
nos cristais de cacimbo
sol
sol
sol
XI – O sol tremendamente africano
O sol tremendamente africano
risca caminhos de sangue sobre a sanzala
Na minha sanzala o sol tremendamente africano
enche as cabeças com o silêncio dos imbondeiros
e semelhantes ao sol o tapete enche os peitos
nas liturgias da puberdade com os sexos cheios
de futuro
na minha sanzala o sol arde
enche os sexos
com apelos de amor
Página publicada em agosto de 2017
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